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domingo, 5 de abril de 2009

Mais ovos do que nunca

Para conseguir chegar a um número recorde de ovos,
as empresas brasileiras começaram a planejar a Páscoa
há um ano – e não mudaram os planos nem mesmo
com a crise. Quem puxa as vendas é a classe C

Cíntia Borsato
A produção de ovos de Páscoa no Brasil atingiu neste ano uma marca jamais alcançada. Segundo estimativa da Abicab, associação que reúne 90% dos fabricantes de chocolate no país, 120 milhões de unidades chegaram ao mercado – 113 milhões fabricados pela indústria e outros 7 milhões confeccionados em fábricas menores, parte delas no mercado informal. Dados da Nestlé, uma das líderes do setor, são ainda mais vistosos: eles indicam uma produção de 160 milhões de ovos de chocolate. Tal volume exigiu das empresas uma verdadeira operação de guerra. Lacta, Nestlé e Garoto, que juntas respondem por 70% dos chocolates no país, começaram a planejar a Páscoa de 2009 uma semana depois da de 2008. A fabricação propriamente dita teve início seis meses atrás. Para executar a "Operação Páscoa", como já é conhecida a empreitada, foi preciso contratar, em regime temporário, algo como 25 000 funcionários. O empenho das empresas tem uma razão: em nenhum outro período do ano se vende tanto chocolate no país. Em 2008, faltou ovo nas lojas. O ritmo de vendas nos dias que antecederam a Páscoa foi doze vezes o do restante do ano. Na prática, significa que só os ovos representam hoje 25% de toda a receita da Lacta. A previsão é que o faturamento do setor nesta Páscoa seja de 830 milhões de reais – 7% mais do que em 2008. Isso mesmo com a crise e com o preço dos ovos, em média, 8% mais alto. Diz o consultor Eugenio Foganholo: "Os brasileiros não deixaram de consumir produtos que, embora supérfluos, têm preço acessível".
O principal motor para o crescimento nas vendas de ovos de chocolate, que se acentuou de dois anos para cá, deve-se ao aumento da classe C – para onde foram alçados, nos últimos dois anos, nada menos do que 23 milhões de brasileiros. Essas pessoas, que raramente compravam chocolate, adquiriram o hábito. Isso motivou a indústria a se adaptar, rapidamente, para atendê-las. A estratégia na Páscoa foi investir na produção de ovos menores (e mais baratos). A participação deles no mercado subiu 10% e já representa um terço do total. Apesar do valor mais baixo, esses ovos menores garantem algo que, na Páscoa, se torna ainda mais vital para as empresas: escala na produção. Só o fato de vender ovos aos milhões justifica produzi-los. Embora a indústria não divulgue números, sabe-se que as margens de lucro dos ovos de Páscoa são mais estreitas do que as obtidas com barras de chocolate comum. A fabricação consome 50% mais tempo, a embalagem é cara e o transporte deve ser feito a bordo de caminhões com sistema de climatização. Além disso, 3% dos ovos, em média, se quebram ou encalham nas prateleiras. Resume Alexandre Tadeu da Costa, presidente da Cacau Show, a maior rede de lojas especializadas em chocolate no país: "É difícil ganhar dinheiro com ovos de Páscoa. Só vendendo muito".
O Brasil é o quarto maior mercado consumidor de chocolates do mundo, depois de Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Isso ajuda a explicar o fato de o país ocupar, segundo levantamento da National Confectioners Association (a associação americana de fabricantes de balas e chocolates), a segunda posição global no ranking de vendas de ovos de Páscoa, atrás apenas da Inglaterra. Há, no entanto, um segundo fator que impulsiona a venda dos ovos de chocolate no Brasil, este cultural. A tradição de celebrar a Páscoa é antiga e arraigada no país. Entre os feriados católicos, a data só perde em popularidade para o Natal. Não é assim em toda parte. Nos Estados Unidos, por exemplo, o dia de Ação de Graças é mais festejado. A Páscoa brasileira, também por tradição, sempre inclui ovos de chocolate, o que não ocorre, na mesma medida, em outros lugares. Na Europa, é comum que os ovos sejam apenas decorativos. Nesse cenário, não parece exagero que as empresas brasileiras já tenham começado a planejar a Páscoa de 2010.

http://veja.abril.com.br/080409/p_092.shtml

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