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domingo, 4 de outubro de 2009

Enquanto o petróleo enriquece a Austrália, vazamento é visto como alerta



Pássaro coberto de óleo derramado por navio que se partiu no mar Negro, na Rússia, em 2007






Meraiah Foley Em Sydney (Austrália)

Os turistas que esperam observar a exótica vida marinha da Austrália costumam ir direto para a Grande Barreira de Corais. Mas os conservacionistas dizem que um ambiente marinho tão notável, embora menos conhecido, está ameaçado pela crescente exploração de petróleo e gás que acontece entre os recifes e atóis da costa noroeste do país.

Um poço de petróleo avariado na região tem expelido milhares de litros de óleo cru no Mar do Timor desde 21 de agosto, quando um vazamento forçou a evacuação de todos os 69 trabalhadores da plataforma. Equipes de emergência vêm trabalhando para conter o derramamento, mas funcionários dizem que poderá levar mais três semanas para bloquear o vazamento.


A plataforma fica acima da jazida de petróleo Montara, a 250 quilômetros a noroeste da base aérea Mungalalu Truscott na região remota da Kimberley, na Austrália. O poço que está vazando é propriedade da companhia nacional de petróleo da Tailândia, a PTT Exploration and Production, uma das muitas companhias de energia que montaram operações no oeste da Austrália para satisfazer o apetite cada vez maior da Ásia por petróleo e gás.

Na primeira metade deste ano, mais de 50 poços foram perfurados nas águas tropicais no litoral oeste da Austrália, somando-se a centenas de outros projetos recentes. No mês passado, o governo deu à Chevron sinal verde para expandir sua exploração na gigante jazida de gás de Gorgon, um projeto de US$ 40 bilhões que foi contestado pelos conservacionistas por causa de seu potencial impacto ambiental.

Os economistas dizem que o aumento no comércio de petróleo e outros recursos minerais ajudou a Austrália a escapar da violência da crise econômica global, mas os ambientalistas dizem que essa prosperidade tem um preço. Eles dizem que o vazamento de petróleo de Montara é meramente um sinal do que virá adiante, a menos que haja uma proteção maior em relação a vastas extensões de recifes tropicais no noroeste da Austrália.

"É um conflito clássico entre o desenvolvimento e os valores ecológicos da região", disse John Carey, gerente do Kimberley Conservation Program para o Pew Environmental Group. "Precisamos encontrar o equilíbrio certo. Mas neste momento o balanço é que menos de 1% dessa área de importância global está sob alguma forma de proteção."

A companhia petrolífera tailandesa disse que ainda está investigando o que causou o vazamento. Para contê-lo, a companhia alugou um equipamento especializado para perfurar a 2,57 quilômetros abaixo do leito marinho e inundar a área com lama pesada.

Mas esse equipamento altamente especializado não chega tão facilmente. Levou três semanas para ser transportado de Cingapura.

A companhia recusou-se a estimar quanto petróleo vazou no mar, dizendo que é muito perigoso fazer medições acuradas a partir do equipamento danificado. A companhia e funcionários australianos, que estão ajudando a limpar o vazamento, dizem que a mancha de óleo tem 40 quilômetros de largura e 136 quilômetros de comprimento, mas parece que o vazamento está diminuindo.

O ministro do meio ambiente, Peter Garrett, disse em setembro que o governo acreditava que 300 a 400 barris de petróleo estavam vazando no mar por dia. Isso representa mais de 1,7 milhão de litros de petróleo, e quantidades desconhecidas de gás e hidrocarboneto líquido, desde que o vazamento começou. Segundo esta conta, o vazamento de Montara é relativamente pequeno. O Exxon Valdez, em comparação, derramou cerca de 41 milhões de litros quando encalhou na costa do Alaska em 1989.

A mancha de óleo não atingiu nenhuma costa, graças em parte às condições climáticas amenas e aos esforços do governo australiano para desfazer a mancha pulverizando-a com dispersante químico. Mas os conservacionistas temem que a mancha possa ter um forte impacto sobre os animais marinhos que se alimentam ou viajam sobre a superfície do oceano ou próximo a ela.

"Precisamos destruir o mito de que um vazamento de óleo só se torna um problema quando chega às praias", disse Gilly Llewellyn, gerente dos programas de conservação da WWF-Austrália.

A companhia tailandesa PTT disse que está comprometida em ajudar a limpar o vazamento e planeja conduzir monitoramento ambiental na região para verificar o prejuízo. O ministro de Energia da Austrália, Martin Ferguson, anunciou planos para uma investigação ampla sobre a causa do vazamento.

Ferguson e a Associação Australiana de Produção e Exploração do Petróleo, que representa 98% dos operadores de petróleo e gás do país, defenderam o recorde do setor, dizendo que o vazamento do poço de Montrara é o primeiro que aconteceu no mar desde 1984.

Pesquisadores marinhos e grupos conservacionistas dizem que são realistas em relação à tendência econômica de continuar desenvolvendo a região, mas querem que o governo estabeleça mais santuários marinhos e regulações ambientais mais severas no oeste da Austrália. O governo deve divulgar uma estratégia para a região no ano que vem.

"Não dá para impedir a produção; esta é uma área imensa de exploração futura", disse Nic Bax, principal investigador do Marine Biodiversity Research Hub. "Precisamos nos certificar de que estamos cooperando com a indústria para determinar qual é a melhor maneira e a mais segura de fazer isso."

Tradução: Eloise De Vylder

fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/10/04/ult574u9712.jhtm

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